Noites Brancas e outras histórias
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Noites Brancas e outras histórias
Noites Brancas e outras histórias
R$ 15,00
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O protagonista de Noites Brancas é um “sonhador”, no sentido mais amplo da palavra e é assim que ele se apresenta, sem nome, nem documento. Ao percorrer ruas sem fim em suas andanças constantes pela antiga São Petersburgo, divaga sobre assuntos variados, quase que em um mundo paralelo, afastado completamente das coisas mundanas, oscilando entre beleza, deslumbramento e melancolismo, tendo suas palavras acentuadas pela atmosfera onírica da cidade, proveniente do fenômeno responsável pelo título do livro, Noites Brancas, onde no verão, o sol desaparece às nove da noite, para depois ressurgir baixo na linha do horizonte à meia noite, deixando a noite iluminada. Solitário, ele levava os seus dias de forma automática, até que em uma noite se depara com a jovem Nastenka, chorosa e tristonha, as margens de um rio, e um elo entre os dois é logo formado.
“Sou um sonhador, mal conheço a vida real, e um momento como este é tão raro de ser conseguido por mim, que me seria absolutamente impossível não continuar a evocá-lo sempre em meus sonhos.”
Toda a narrativa é repleta de sentimentalismo, e a personalidade singular do sonhador vê em Nastenka um amor a ser despertado, nada convencional e extremamente veloz que, de tão surreal, evoca ainda mais a atmosfera de sonho. Porém, nos primeiros momentos, me encontrei arrastando a leitura, o quase monólogo a torna um tanto cansativa, e não são poucos os parágrafos de uma página inteira com uma enorme ausência de pontos finais, o que pode dificultar a leitura, até que nos acostumemos a isso. Felizmente, a narrativa toma fôlego e melhora consideravelmente com a entrada da história de Nastenka que ao contar a sua triste trajetória de amor para o sonhador, desperta ainda mais a sua simpatia e permite ao leitor um rápido avanço de páginas, e maior interesse em relação ao desfecho da trama. A história é bem curta, mas o encanto do sonhador permanece, assim como um espécie de melancolia, depois de virada a última página.
“… E a gente fica triste por ver que a beleza se esgotou tão depressa e irrevogavelmente, de que com a luz tão falsa e vã tenha brilhado ante nossos olhos… tristeza por não ter havido tempo de tomarmos gosto por ela…”
Não poderia existir contraste maior, porém, em relação ao protagonista de Noites Brancas, com o protagonista do Subsolo, história subsequente. Este segundo, é um funcionário público que vive quase isolado, extremamente pessimista e amargo, um ser desprezível, antagonista duro e atormentando, desprovido de altruísmo ou qualquer consideração pelo próximo.
A primeira parte, consiste puramente num monólogo, onde ele tenta explicar os seus motivos para agir de tal forma, ao mesmo tempo em que procura encontrar um sentido na vida e nas ações dos homens, ou falta delas, divagando sobre aspectos morais e sociais, em certo ponto se descrevendo até mesmo como um homem mau, passando a dissertar sobre o ser humano, suas vontades, e em como o próprio homem procura prejudicar-se através destas, com os seus desejos muitas vezes contradizendo a sua razão, e ainda assim não sendo postos de lado, entre outros aspectos, como o quanto a sociedade intelectualizada contribuiu para a proliferação da maldade, e acentuou no homem o gosto pela morte e pelo sangue.
“…Então, em que é que a civilização nos adoça? A civilização não faz mais que desenvolver em nós a diversidade das sensações… nada mais. E, graças ao desenvolvimento dessa diversidade, é muito possível que o homem acabe por descobrir uma certa volúpia no sangue. Isso aliás já aconteceu. (…) Antigamente o homem considerava que tinha o direito de derramar sangue, e era com a consciência bem tranquila que destruía o que bem lhe aparecia. Hoje, embora considerando a efusão de sangue uma ação condenável, nem por isso deixamos de matar, e mais frequentemente ainda do que antes. Isso vale mais? Decidi vós mesmos.”
Ao se destrinchar em palavras através de uma análise de si mesmo, ele procura suscitar uma certa identificação, na tentativa de explicar as suas atitudes vis e mesquinhas (que serão contadas a seguir, em forma de pequenas histórias) das quais não consegue de forma alguma desprender-se, ao mesmo tempo em que também não consegue esquivar-se do peso moral das mesmas, causando-lhe um tormento constante.
O relato contado pelo “homem do subterrâneo” consiste num dos maiores tesouros literários já escritos, considerado precursor de todas as obras existencialistas posteriores, sendo utilizado como referência para diversos ícones literários do século seguinte, possuindo assim uma influência inestimável para a literatura universal. Aliás, o seu alcance foi tamanho que trespassou as barreiras literárias e adentrou no âmbito psicológico, sendo considerado de extrema importância para pesquisas posteriores de nomes como Freud e Nietzsche, por exemplo. Só por isso já vale a leitura, mas recomendo que se aventure apenas se estiver à procura de algo mais denso, para ser lido vagarosamente e com toda a atenção, ou o propósito será perdido.
Título Original: Bielie Notchi
Editora: Martin Claret
Número de Páginas: 198
Gênero: Clássicos
Cedido em parceria com a Martin Claret
retirado de: http://www.book-addict.com/2012/07/noites-brancas-e-outras-historias.html